Hoje eu e minha esposa tivemos uma pequena discussão. Quiçá, tecnicamente nem discussão seria, mas uma “conversa tensa”, daquelas que acometem qualquer casal normal, em que se há os clássicos elementos: um impasse; dois pontos de vistas antagônicos; o leve tensionar entre as opiniões contrapostas.
Mas o que me motiva a escrever não é propriamente o entrevero que tivemos. Mas sim, porque no meio da briguinha havia um fator novo: Cecília, nossa filha de 05 meses, que estava nos braços da sua mãe, minha esposa.
Voltando um pouco no tempo – quinze minutos. Nós tínhamos acabado de chegar de um momento especial em família, onde comemos uma abençoada feijoada, num banquete cheio de aroma e amor, sem dúvida.
Em casa, estendemos no chão da sala o edredon para lá colocar Cecília e com ela brincar no improvisado playground.
E brincamos por algum tempo. Nesse brincar, ela, criança de riso fácil, nos fez sorrir e nosso sorriso retroalimentava seus gritinhos e engatinhar.
Químicas especiais de uma família.
Depois, precisávamos, eu e minha esposa, decidir como seria o restante de nosso dia. E da conversa veio a já citada discussão. Enquanto dialogávamos, tentávamos, em vão, mostrar o ponto de vista um do outro. “Alguém tem que ceder”.
Até chegar ao ponto da inversão: simultanemante os dois cedem e passam a defender o ponto de vista do outro, sem querer voltar atrás.
Especiais química de uma família.
E no meio da discussão, um elemento novo, de 40 cm (?), me surgiu como novo.
Reparei no olhar da Cecília, que olhava para mim e sua mãe com um olhar gracioso e engraçado. Era como se ela tentasse entender que tipo de brincadeira seria aquela. “O que significavam aquelas diferentes inflexões nas falas do papai e mamãe?”, “Que tipo de brincadeira é essa?”, “Quando eles vão falar: achoou”?
Era como se ela estivesse a esperar a hora do “bote”, aquele rompante em que a brincadeira passa a fazer sentido.
O olhar dela, ajudo-nos a arrefecer os ânimos, a largar por um breve instante a sisudez de nossas opiniões para sorrir um pouco...
É provável que daqui a alguns anos eu não me lembre mais daquela nossa discussão e muito menos do seus motivos.
Mas eu não quero que nos esqueçamos do olhar da nossa filha para a gente. Um olhar de quem sempre espera de nós o melhor.
Talvez seja dessa forma que Deus nos olhe...
Disso eu não quero me esquecer.
E é por isso que eu escrevo.