segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Meus 32 anos

Tava meio sumido daqui.

Mas tenho lá minhas justificativas.

1ª) Trabalho;

2ª) As horas vagas são da minha esposa e filha;

3ª) Quando em raras vezes tentei postar, empacava na hora de senha e do login, que tinha esquecido.

Mas agora recordei meus dados.

Abaixo, vai um post que queria ter feito há um mês, quando do meu niver.

Explico o contexto deste post.

Desde os meus 12, 11 anos, minha mãe cultivou o hábito de, na véspera do meu aniversário - dia 10 de novembro (a véspera) - escrever sobre o ano que passou.

É uma forma de registrar as vivências do ano ido e, assim, ir levantando os "altares", que vão testificando o passar da vida e o agir de Deus sobre minha existência.

São momentos de minha intimidade, em que eu converso de mim para comigo. Até hoje só duas pessoas tinham acesso a tais diálogos: minha esposa e minha mãe.

Nesse ano, porém, resolvi compartilhar abertamente as coisas tão boas que Deus me fez no meu 32º ano de vida.

Aí vai a quem interessar possa.

***

Parnamirim, Cidade Verde, 21 de novembro de 2009.




Finalmente, eu tenho algum tempo para parar e, mantendo a tradição, escrever sobre o ano da minha vida que se passou. Meus 32 anos.


Em virtude do corre-corre do trabalho, só agora, passados 10 dias do meu niver, tive tempo para escrever.


No ano que passou, a primeira grande, enorme, tremenda novidade, foi o presente de Deus para minha vida, minha filha Cecília, criança de riso fácil, esperta e que a cada dia nos tem abençoado com seu carinho e amor despretensiosos.


Essa foi a grande mudança na minha vida no meu 32º ano de vida.


E, com a paternidade, eu creio que comecei a aprender, pela primeira vez, o que é o caráter sacrificial do amor, aquele que, como afirmou o apóstolo Paulo, “não procura os seus próprios interesses”.


E isto é tarefa sublime, pois, desenvolver o lado sacrificial do amor é trilhar os passos de Deus, que a si mesmo se entregou de corpo e de alma por cada um de nós.


Tenho aprendido a ser pai e, ao mesmo tempo, ser melhor marido para a Karine – já que ser pai é, numa perspectiva conjugal, dividir as cargas, as tarefas, os medos, os risos e os choros.


Antes da Cecília – hoje percebo –, eu era muito mais “vinde a mim”. Mesmo no casamento, vejo que minha esposa, provavelmente pelo instinto materno, sabia e exercia mais o lado sacrificial do amor, através do cuidado que tinha para comigo.


Pós-Cecília, o negócio mudou bastante – mas não da noite para o dia, já que estou apenas no início de um processo de aprendizado.


Mas comecei a entender, por exemplo, o que é uma 3ª jornada de trabalho, ou seja, chegar em casa cansado e não deixar a bola cair, já que tem em casa a minha esposa que está cansada e precisa de mim para dividir a carga.


Comecei a saber o que é estar com fome, mas, antes de comer, garantir que primeiro minha filha esteja alimentada – e isto para mim, filho único, era algo absolutamente inédito.


Tive que reestruturar meu horário de sono – acordar às 06 da manhã se quisesse malhar (já que a noite era para a minha filha).


O fato de não termos babá ou algum de nossos pais em Natal, nos levou a encarar de frente, sem subterfúgios, a maternidade e a paternidade.


Talvez uma primeira leitura possa levar à conclusão de quer ser pai é uma coisa chata.


Eis aí um interessante paradoxo.


Em que pese todo esse sacrifício, tenho sentido que hoje, passados 09 meses do nascimento da Céci, sou uma pessoa melhor e um melhor marido para minha esposa.


Cada sacrifício que faço me faz sentir que posso sim ser uma melhor pessoa.


A cada renúncia me sinto dando um pouco do muito que recebi ao longo da minha existência.


Ou seja, não há aqui lamúria alguma, muito pelo contrário.


Na verdade, as recompensas diárias de conviver com uma criança tornam cada sacrifício tão pequeno.


E tudo isso muitíssimo me humanizou. Fiquei mais sensível a dor do próximo, especialmente quando envolve uma criança – o que termina por humanizar meu próprio trabalho.


Chegar em casa e ser recebido com gritinhos sinceros de alegria... Ver a excitação nos olhos e nos braços de minha filha quando, de manhã, ela entra no meu quarto e me vê... Ver a fascinação dela com a descoberta das coisas do mundo que para mim eram insignificantes (afinal, que graça há numa garrafa d'água?)... São coisas que me fazem viver mais leve, reviver os meus tempos de criança.


Para nós, eu e Ká, tem sido interessante notar como para uma criança o tempo é o melhor presente que lhe podemos dar. Quanto mais nós nos doamos, mais ela se apega a nós. E cada brilho dos seus olhos nos faz ver que muito mais do que dar, nós recebemos.


Enfim, ser pai dá muito trabalho, mas dá muito mais alegria. Vale a pena.


O que mais me ocorreu nesse ano? A paternidade meio que ofuscou as demais coisas...


Bem, no trabalho eu tive a oportunidade de ficar por mais dois anos em Natal, pois fui convidado pelo atual PGJ, o amigo Onofre, a permanecer no CAOPIJ.


Nesse aspecto foi-me um privilégio, pois hoje trabalho numa área de que muito gosto e que tem forte ligação com o Evangelho do Senhor Jesus, pois é necessário salgar o mundo para respeitar os direitos fundamentais dos mais novos.


Por outro lado, tenho vivido um ocaso, em termos de reconhecimento do trabalho, pois não há qualquer reconhecimento no MP hoje para o trabalho dos Centros de Apoio, de forma que nas listas de merecimento eu figuro em último lugar.


Para mim, não tem sido fácil praticar o que Paulo recomendou: “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” (Cl 3:23).


Trabalhar sem reconhecimento... Nestas horas, fica claro que você tem que trabalhar por algo que vá além de seus próprios interesses. É necessário ajustar bem o seu foco para saber que, no Senhor, nosso trabalho não é vão. É necessário ainda lançar mão da eternidade, procurando fazer um trabalho que deixe frutos de vida, frutos que se disseminam nas pessoas e com isso e com a benção de Deus, podem ser eternos. Não fitar no que é efêmero.


Enfim, mais um aprendizado: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”. Ou eu lanço mão do olhar de Cristo; ou meu olhar humano me joga para baixo. Prefiro ver com os olhos eternos de Deus, o tapeceiro.


Nestes meus 32 anos ano tive dificuldade em organizar meus devocionais, pois além do trabalho há as tarefas de casa. Porém, tenho procurado viver em estado de devocional e aproveitar as horas vagas para pausar na presença de Deus, o que para mim é muito importante para meu equilíbrio interior.


Finalmente, acho que outro destaque desses meus 32 anos é o fato de ter sido o último ano em que estarei morando no nosso primeiro apartamento, no bairro de Cidade Verde, em Parnamirim.


No momento, aguardamos a entrega do nosso próximo ap.


Mas fica o registro de como nós fomos felizes nos anos que passamos aqui.


Obrigado, meu Deus, pelo ar puro, o nascer e o por do sol de que desfrutamos nesta moradia que nos deste.


Obrigado pelos amigos, visitas e hóspedes que pudemos abençoar com nossa casa, que nos deste e que é, de fato, tua.


Obrigado, meu Deus, pela vida das minhas esposa e filha, bençãos inefáveis da minha existência.


Obrigado pelos nossos familiares que, no tanto amor que demonstram à Cecília, é como se nos estivessem amando (e estão).


Obrigado pelo Teu grande amor para comigo. Por tua paciência, misericórdia e graça. Obrigado pela disposição em recomeçar a cada manhã. Obrigado por ter abençoado ricamente os trabalhos das minhas mãos.


Eu não tenho palavras para expressar minha gratidão a ti, ó, meu Deus, pela honra de tê-lo em minha vida.


Mas grato serei.



Sasha.