sábado, 11 de dezembro de 2010

Eu, que nem João; Ele, que nem Jesus

O apóstolo João, diante da partida do mestre e de tantas lembranças que lhe pululavam à mente, escreveu o seu evangelho.

Mas, no último versículo de sua carta (Jo 21:25), sabendo que aquelas páginas não seriam suficientes para conter toda a riqueza das horas silentes ao lado do mestre, dos momentos de descontração no sopé do monte, dos bastidores das curas, das viagens a pé ou de barco, dos risos e choros compartilhados, João se rende à infinitude das entrelinhas de sua amizade com Jesus.

E é com esse mesmo espírito de entrelinhas que eu tomo licença poética para, parafraseando João, prestar homenagem ao meu irmão camarada:

"Há, porém, tantas outras coisas que Junior fez. Se todas elas fosse contadas, uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos".

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O pequeno conto dos ladrões da Lua


Queriam ter consigo a Lua. Ter cada pedacinho dela. Para colocar no bolso de seus vestuários o branco leitoso esparramado da luz do luar.

E nas horas vagas, nas horas incertas, nas noites escuras, nas paradas de ônibus – que como estrelas se espalham pela cidade –, poderiam puxar de seus bolsos a luz da Lua e saber nos seus olhos como são felizes.

E assim fizeram. E assim roubaram do céu a Lua; da noite, a sua filha.

Era noite fria. E todos dormiam, fechados, em seus quartos.

Tomaram a Lua. E ela, de doce e educada, deixou-se levar.

Mas pouco depois alguns acordaram... Olharam à Lua, mas ela não estava.

- "Do céu a levaram!", pensaram os homens, choraram as mulheres, clamaram os meninos.

E viram a família, de boêmios meliantes, dobrando a esquina em larga conversa, de braços, mãos dadas, com a Lua levada.

E então foram pegues. E então os prenderam. E então os jogaram em masmorra fétida.

Mas, quando o juiz, que teve o caso, soube da notícia dos ladrões da Lua, resolveu soltá-los.

Pois soube o juiz que toda a cidade – e ele, inclusive – sempre cobiçara ir lá na galáxia, subir no mais alto andar da cidade, pra Lua abraçar... Pra Lua levar.

E Lua feliz ficou com a notícia da terna família que tanto a amou.

E todos os meses, por uma semana, do céu ela desce pra junto à família um pouco pousar.

Chamam tal fase de "Lua Nova" – aquela semana de ausência da Lua no céu estelar.

Mas, cá entre nós, aquela semana gostava a Lua de "Lua Renova" assim a chamar.

Pois era ela quando, com a sua família, que a tinha roubado, podia sorrir, podia folgar.

E tanto ela ria, e tanto brilhava, que às vezes a noite beirava o dia.

E a Lua era Nova. E a Lua era alegre com o amor da família, com o riso dobrado que dava Cecília.

E a lua amava. E a lua era amada.

Por tantas famílias, por tantas Cecílias.

domingo, 25 de julho de 2010

Meus queridos migrantes

Essa próxima postagem é dedicada a um casal de amigos queridos, daqueles mais chegados que irmãos. Mura boy e Roberta Lia.

Hoje eu ouvi Dona Elma, minha avó do coração, dizer “a vida é um pau de sebo” e, enquanto apontava com seu dedinho indicador para cima e para baixo, dizia “a gente sobe, a gente desce”.

Meus queridos amigos, Murilo e Roberta, atravessam uma fase nova de suas vidas que conhecemos bem: mudança de cidade.

Obviamente, que não se trata de uma mera questão geográfica, mas de uma verdadeira mudança de vida. É um momento de muitos desafios e calafrios na barriga. Mas também é uma fase muito legal em que um mundo novo se descortina.

“Como será o bairro em que iremos morar?”

“Como será a relação com a família doravante?”

“Quais serão os novos amigos que entrarão em nossa vida daqui pra frente?”

“Qual será a minha nova igreja?”

“Como será o meu novo trabalho?”

“Quais são as perspectivas de trabalho, de estudo...?”

Essas são algumas das muitas perguntas que pululam na cabeça numa fase como essa.

Mas no geral dá para dizer tranquilamente: é uma fase única na vida de um casal, em que podemos sentir o cuidado de Deus para conosco, tanto no apoio logístico dos amigos e família, como também nas demonstrações de afeto dos que vão ficando para trás.

Aos meus amigos, dedico a música abaixo que compus no ano passado, quando eu e a Ká atravessamos um período de incerteza nas nossas vidas, sem saber em qual cidade iríamos morar dali em diante.

Naquela época me ocorreu à mente as palavras de Jesus quando disse “porque o reino de Deus está dentro de vocês” (Lucas 17:21).

E eu, Karine e Cecília lembramos naquele momento, que “onde quer que pisasse a planta do nosso pé”, Deus estaria dentro de nós, dando-nos a orientação devida.

E assim, Deus estará com nossos amigos Mura e Roberta, lhes guiando dia e noite, noite e dia. No cume e no sopé do sebo.

E, doravante, minhas enfadonhas viagens à Brasília ganharão uma cor toda especial. Especialíssima.


Sasha Alves


***


O Reino


Pode ser aqui,

Pode ser ali

O lugar tanto faz.


Se no Ceará,

Ou no Himalaia,

O lugar tanto faz.


E não é por cor,

Raça ou favor

Que o recebereis.


Veio para mim

Veio pra ti

Veio pra quem quiser.


Basta unir dois ou três por mim

Pode ser em Mossoró ou Paris


Pois Jesus já falou certa vez:

“Dentro em vós, eu habitarei”.


O mistério vindo lá de Deus,

Revelou-se em Jesus, o Rei.


Para uns é loucura dos céus,

Para outros é pleno poder.


Rei eterno veio residir

Mora no peito Cristo, sim.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Desplanejamento Estratégico


O tempo é mesmo uma riqueza finita, que não se renova.


Lembro do salmista pedindo a Deus:

“Ensina-nos a contar os nossos dias, de modo que alcancemos um coração sábio”.

Essa tem sido a oração que mais tenho feito neste início de ano.

Nos dias atuais, em que tudo é tão veloz – a informação, as leituras, os transportes, os relacionamentos, a vida – cuidar do tempo virou uma obsessão tecnocrata (“quero gerenciar meu tempo para ter mais produtividade e, assim, lucratividade”).

Já passei por dois processos de gestão estratégica: um na minha igreja (de Fortaleza), outro no trabalho... Quer saber? Me perdoem os administradores, mas gerir tempo para viver em função de números, estruturas e processos é um saco!

Oro a Deus para que meu tempo seja útil não só para trabalhar (sem dúvida, um alvo nobre quando não se perde o foco do próximo – quem quer que o seja), mas também para saber aproveitar minhas horas livres ao lado das mulheres da minha vida, minhas esposa e filha; para ao final da noite, ao deitar na minha cama e conversar com meu Deus, eu poder vê-lo em cada acontecimento do meu dia; para ter mais tempo para tocar minha viola (um dos meus principais alvos para 2010); e para me dar ao luxo de gastar meu precioso tempinho jogando conversa fora com meus amigos, sem nenhum propósito que não o de sermos nós mesmos.

Nada estrategicamente gestado – mas sim propositadamente “desplanejado”, já que na vida normalmente o que nos acontece de melhor não foi estatisticamente concebido.