Queriam ter consigo a Lua. Ter cada pedacinho dela. Para colocar no bolso de seus vestuários o branco leitoso esparramado da luz do luar.
E nas horas vagas, nas horas incertas, nas noites escuras, nas paradas de ônibus – que como estrelas se espalham pela cidade –, poderiam puxar de seus bolsos a luz da Lua e saber nos seus olhos como são felizes.
E assim fizeram. E assim roubaram do céu a Lua; da noite, a sua filha.
Era noite fria. E todos dormiam, fechados, em seus quartos.
Tomaram a Lua. E ela, de doce e educada, deixou-se levar.
Mas pouco depois alguns acordaram... Olharam à Lua, mas ela não estava.
- "Do céu a levaram!", pensaram os homens, choraram as mulheres, clamaram os meninos.
E viram a família, de boêmios meliantes, dobrando a esquina em larga conversa, de braços, mãos dadas, com a Lua levada.
E então foram pegues. E então os prenderam. E então os jogaram em masmorra fétida.
Mas, quando o juiz, que teve o caso, soube da notícia dos ladrões da Lua, resolveu soltá-los.
Pois soube o juiz que toda a cidade – e ele, inclusive – sempre cobiçara ir lá na galáxia, subir no mais alto andar da cidade, pra Lua abraçar... Pra Lua levar.
E Lua feliz ficou com a notícia da terna família que tanto a amou.
E todos os meses, por uma semana, do céu ela desce pra junto à família um pouco pousar.
Chamam tal fase de "Lua Nova" – aquela semana de ausência da Lua no céu estelar.
Mas, cá entre nós, aquela semana gostava a Lua de "Lua Renova" assim a chamar.
Pois era ela quando, com a sua família, que a tinha roubado, podia sorrir, podia folgar.
E tanto ela ria, e tanto brilhava, que às vezes a noite beirava o dia.
E a Lua era Nova. E a Lua era alegre com o amor da família, com o riso dobrado que dava Cecília.
E a lua amava. E a lua era amada.
Por tantas famílias, por tantas Cecílias.