sábado, 23 de janeiro de 2010

Desplanejamento Estratégico


O tempo é mesmo uma riqueza finita, que não se renova.


Lembro do salmista pedindo a Deus:

“Ensina-nos a contar os nossos dias, de modo que alcancemos um coração sábio”.

Essa tem sido a oração que mais tenho feito neste início de ano.

Nos dias atuais, em que tudo é tão veloz – a informação, as leituras, os transportes, os relacionamentos, a vida – cuidar do tempo virou uma obsessão tecnocrata (“quero gerenciar meu tempo para ter mais produtividade e, assim, lucratividade”).

Já passei por dois processos de gestão estratégica: um na minha igreja (de Fortaleza), outro no trabalho... Quer saber? Me perdoem os administradores, mas gerir tempo para viver em função de números, estruturas e processos é um saco!

Oro a Deus para que meu tempo seja útil não só para trabalhar (sem dúvida, um alvo nobre quando não se perde o foco do próximo – quem quer que o seja), mas também para saber aproveitar minhas horas livres ao lado das mulheres da minha vida, minhas esposa e filha; para ao final da noite, ao deitar na minha cama e conversar com meu Deus, eu poder vê-lo em cada acontecimento do meu dia; para ter mais tempo para tocar minha viola (um dos meus principais alvos para 2010); e para me dar ao luxo de gastar meu precioso tempinho jogando conversa fora com meus amigos, sem nenhum propósito que não o de sermos nós mesmos.

Nada estrategicamente gestado – mas sim propositadamente “desplanejado”, já que na vida normalmente o que nos acontece de melhor não foi estatisticamente concebido.

4 comentários:

  1. Sasha, você tem razão em muito do que fala em seu blog sobre o planejamento estratégico. Para muitos, o PE virou ferramenta miraculosa, instrumento obsessivo para otimizar o tempo e dar a ssensação de ser mais produtivo. Alguns usuários do PE conseguem quase cultuá-lo como uma nova religião gerencial. Sou um crítico dessas posturas, especialmente igrejas, que forçam a barra para aplicar métodos e técnicas do PE, sem considerar a essência de sua atuação, que é o compartilhamento e a vivência de uma espiritualidade autêntica, baseada no amor de Jesus. Fica apenas a técnica pela técnica. Entretanto, o PE é uma ferramenta valiosíssima para pessoas e organizações, quando as levam a refletir sobre alvos, focos e objetivos que são desperdiçados no caminhar da vida. Pense na quantidade de pessoas e organizações que se dão conta, às vezes muito tarde, de que estão vivendo "um dia após o outro", sem uma direção mais ou menos definida. Para essas, o PE pode ser uma reflexão importantíssima. Acho que o mais importante em sua crítica, são duas premissas corretas: primeiro, não conseguimos controlar tudo. Deus é Senhor da nossa história e não podemos cair na arrogância de achar que interferimos em todas as variáveis do nosso destino. Em segundo lugar, a técnica não pode sufocar a espontaneidade da ação de Deus em nossa vida. Assim, temos de estar abertos aos desígnios de Deus em nossa vida, conscientes de que Ele requer um espaço para operar em nossa existência, por meio do nosso caráter, dos talentos, enfim, do nosso jeito de ser. Por isso, temos de pedir a Deus a sabedoria para distinguir o que devemos planejar daquilo que simplesmente devemos deixar Deus tocar em nossa vida, desenvolvendo intimidade, cumplicidade e um amor por Ele, nós mesmos e por aqueles que nos rodeiam. Isso vai até o fim da vida. Como dizia Erich Fromm, "morremos sem termos nascido completamente". A vida é um aprendizado constante. Um abraço e um beijo na Céci, ELEAZAR.

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  2. Sasha, esta sua reflexão merece uma reflexão, certamente.
    Faço por nós uma oração: que Deus nos ajude não só a remir o tempo, mas que nos ajude a encontrar na vida motivações, encontrar a paz sabendo que os dias e as noites são feitos para dar luz e sombra ao colorido natural da existência.
    Peço também o auxílio divino para que possamos fazer as coisas que Deus faria se no nosso lugar humano estivesse.
    A vida é sempre bela!
    Tenho orgulho, amor e admiração por você meu filho. Sorte minha que sou sua mãe e pude vê-lo crescer.
    Beijo na minha netinha...

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  3. Sasha, não poderia tecer melhor comentário do que os que já foram escritos aqui. Faço um breve acréscimo.

    A urgência do desplanejamento estratégico (porque não chamarmos de DE, em oposição ao PE?) é histórica: vem de grandes autores como C.S. Lewis, em 1926, ou Santo Atanásio, bem antes disso; até Augusto Cury e Ed René, nos dias de hoje. Todos guerrilheiros do anti-pós-modernismo, ativistas da contra-cultura, nos atentando continuamente para o fato de que a vida é muito curta para que não seja percebido o desabrochar de uma flor.

    Quando o nosso grito de socorro vira um sussurro, o melhor é desacelerar.

    Como contribuição ao seu desplanejamento estratégico (DE), que muito me agrada, uma música que fala diretamente ao meu coração em momentos assim:

    "Desacelera no teu coração o ritmo,
    sossega na presença de Jesus.
    Desacelera do compasso deste século,
    e escuta o sussurro do Senhor.

    Larga todo o controle que insistes em carregar,
    obedece a dinâmica do teu viver,
    e verás que fazer música é também pausas usar,
    e verás que adorar também é silenciar."

    (SILENCIAR - MÁRCIO CARDOSO)

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  4. Sashão,

    Instigante seu post e os comentários tb.
    Realizei na minha história (des)profissional vários tipos de planejamento: Planejamento da gestão do CA, do escritório de DHs, do ministério da Igreja, de ONG, de vários projetos sociais e institucionais, de aulas, de campanha política e até de ações de greve. Tirando as várias vezes que tentei planejar e desplanejar a minha pessoal.... Embora o planejamento esteja ligado ao dia a dia do meu trabalho(ssss), penso que não existe um planejamento absoluto. Nem desplanejamento tb. O próprio desplanejamento tem que ser desplanejado de vez em quando para que possamos "Alcançar um coração sábio" diante do Criador. Haveria então tempos e tempos: tempo para correr e tempo para parar. Tempo de guerra e tempo de paz, como o diz pregador de Eclesiastes. Caso algum dia, sejamos chamados a construir ou reformar alguma coisa (qualquer organização, grupo, carreira ou empreendimento). Lá vamos nós planejarmos pelo menos a evitar o caos completo que é não planejar nada.... Mas se o ritmo, as metas, os processos sacais (e eles são um perigo) nos tiram da essência da vida, aí sim é hora de desplanejar....

    O certo é que não podemos viver de forma alguma no automático e só apertar o "play". Somos os protagonistas, qualquer que seja nossa arte...

    abração
    Murilo

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